Meio Ambiente: a mercantilização dos bens comuns da humanidade

A mercantilização dos bens comuns da humanidade
Mineração, matriz perversa da economia verde, segundo ativistas


(TerraViva) – Economia verde é o novo demônio de boa parte dos ativistas socioambientais que participam dos debates na Cúpula dos Povos, no Aterro do Flamengo.

Trata-se da nova expansão do capitalismo pela “mercantilização dos bens comuns da humanidade”, em que quatro recursos extraídos da natureza – petróleo, gás, minerais e água – são a base de tudo, sintetizou Carlos Torres, cientista político chileno e colaborador do Observatório Latino-Americano de Conflitos Ambientais (OLCA).

Temos que pagar por qualquer coisa, inclusive os bens públicos como água e os serviços ambientais da natureza. Mas nossos pagamentos não retornam em termos de melhor qualidade de vida, essa a “perversidade da economia verde”, por isso é preciso “confrontá-la”, construir alternativas, segundo Torres.


Nesse contexto a mineração vive um crescimento explosivo no mundo, especialmente na América Latina. As minas se multiplicam, espalhando danos sociais e ambientais, sem que a pobreza e a desigualdade tenham uma solução, observa o ativista que coordena uma assembleia contra “megaprojetos extrativos” no fórum da sociedade civil que faz parte da Rio+20.

No Brasil a industria extrativa saltou de 1,6 por cento do produto interno bruto em 2000 para 4,5 por cento no ano passado e os planos governamentais indicam um aumento maior ainda nas próximas décadas, destacou Carlos Bittencourt, coordenador de estudos do setor no Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase).




Serra Pelada, o mais famoso garimpo dos anos 80, reabre agora para exploração do ouro por uma empresa canadense. A Vale planeja duplicar a produção de ferro na Serra de Carajás, o que exige a mesma ampliação da ferrovia que escoa o minério do sul paraense.

Mesmo o Rio de Janeiro se tornou um centro da economia extrativa, com novos portos de exportação de minérios e a construção do maior complexo portuário das Américas em Açu, no norte do estado, uma iniciativa do grupo EBX, do empresario Eike Batista, que também participa do boom mineiro no Chile e na Colômbia.


Mas o maior empreendimento brasileiro é a extração do petróleo do pré-sal, que fez a Petrobras prever investimentos de 236 bilhões de dólares até 2016, gerando encomendas de sondas, navios petroleiros e plataformas que estão reativando a industria naval no país, destacou Bittencourt.


Essa avalanche que demanda muita energia e água tem, em contrapartida, produzido crescentes resistências populares, concluiu.


No Chile um novo drama, narrado PR Juan Carlos Morales, é o projeto da empresa de Eike Batista, de construir em Atacama a maior usina termoelétrica latino-americana, com potencia de 2.350 megawatts. O uso do carvão pulverizado é muito poluente, sua tecnologia já foi banida na Europa, segundo o ativista.


A mineração no norte do Chile exige mais energia, o que justificaria a obra. Mas a região já foi gravemente contaminada por outra termoelétrica durante 40 anos e lá morre uma pessoa de câncer de pulmão por dia, correlaciona Morales. Uma batalha jurídica e a resistência de 70 famílias não estão conseguindo parar o projeto.


Colômbia, sem a tradição chilena ou peruana de mineração pesada, entrou no clube. Para o atual governo é a locomotiva do desenvolvimento, lamentou Camilo Salcedo, pesquisador de políticas ambientais da Universidade Nacional. Já há 5,8 milhões de hectares concedidos para a exploração mineira e lá está presente também o Eike Batista.


Movimentos de resistência também cresceram. Em Bucaramanga, que depende da água das montanhas, um projeto de ouro foi parado pelos protestos. E trava-se uma luta legal para que evitar concessões de lavra em territórios indígenas.


No Peru, a Constituição de 1993, imposta pelo ex presidente Alberto Fujimori, “blinda” as empresas mineiras de todos os riscos. A expansão do setor na última década foi tanta, com impactos tão severos, que um quinto do território nacional vive em “permanente convulsão social”, relatou o peruano Gonzalo Luna.


O projeto Conga, de extração de ouro e cobre na região de Cajamarca, no norte do Peru, enfrenta protestos que chegaram à greve geral, em defesa de quatro lagoas e águas ameaçadas de poluição. No sul, na província de Espinar, trava-se luta similar.


A onda extrativa se estende a muitos países. Também no Haiti sofre uma ofensiva de empresas canadenses em busca de ouro, cobre e prata, denunciou Camille Chalmers, economista e líder de uma rede de organizações sindicais e camponesas por um desenvolvimento alternativo.


No México, produto do Tratado de Livre Comercio com Canadá e Estados Unidos, o setor conta com privilégios constitucionais com a isenção de impostos e mecanismos favoráveis sob o pretexto de estimular investimentos, de forma que um quarto do território nacional já foi concedido à exploração mineira, informou Rosalinda Hidalgo, ativista da água e dos direitos indígenas e camponeses do Estado de Veracruz. Envolverde/IPS



(IPS)


Texto original no Jornal O Rebate



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O complexo militar industrial e a energia nuclear

Tortura nas prisões colombianas: sistematismo e impunidade revelam uma lógica de Estado

Campo de Concentração do Tarrafal - o Campo da Morte Lenta