Pobreza e riqueza na Alemanha

Aumento da exploração cava fosso das desigualdades
 Pobreza e riqueza na Alemanha

Um recente estudo do Ministério do Trabalho alemão reconhece oficialmente o drástico agravamento das desigualdades no país nos últimos 30 anos, em particular nas últimas duas décadas.

O estudo, com 500 páginas, intitulado «Riqueza e Pobreza», já referido sucintamente na última edição, mostra que a Alemanha é um dos países em que a transferência de riqueza do trabalho para o capital foi mais acentuada, gerando desigualdades sociais até há pouco imperscrutáveis.

Assim, em apenas 20 anos, os activos privados (riqueza privada) mais que duplicaram, passando de 4,6 biliões (milhões de milhões) para dez biliões.

Ora, como observa o correspondente do jornal espanhol La Vanguardia, Rafael Poch, se dividíssemos este colossal montante pelos 40 milhões de fogos alemães, cada um receberia uma pequena fortuna de 250 mil euros.

Porém, não é de distribuição que se trata mas de crescente concentração. Em detalhe, as estatísticas federais, relativas a 2008, mostram que 53 por cento dos activos privados estavam nas mãos de dez por cento dos alemães mais afortunados. Outros 46 por cento da riqueza privada eram detidos por 40 por cento da população, ficando apenas um por cento dos activos para a metade restante dos alemães.

Dez anos antes, em 1998, a metade mais pobre ainda possuía quatro por cento dos activos privados e a categoria dos 40 por cento da população medianamente abastada acedia a 52 por cento da riqueza. No período que se seguiu, apenas os dez por cento mais ricos lograram aumentar a sua riqueza, à custa do empobrecimento da esmagadora maioria da população.

Esta evolução prosseguiu, segundo mostram os dados relativos a 2011, constatando-se que os dez por cento mais ricos já detêm 66,6 por cento do capital.

Mas até dentro desta minoria há diferenças abissais. Assim, apenas 0,1 por cento da população maior de 17 anos controla 22,5 por cento dos activos, 0,9 por cento deita a mão a 13,3 por cento da riqueza e os restantes nove por cento de ricos desta categoria repartem 30,8 por cento do capital.

A parte intermédia (40 por cento da população) viu a sua fatia reduzir-se para 32,2 por cento, restando 1,2 por cento para a outra metade da população.

Salários congelados lucros duplicados

Para alguns políticos e observadores, citados no mesmo jornal (08.10), o agravamento das desigualdades nos últimos dez anos resulta com evidência do congelamento dos salários reais, ao mesmo tempo que os lucros empresariais mais que duplicaram.

O aumento da exploração foi em grande parte proporcionado pelo conjunto de leis conhecidas como Hartz IV, que promoveram os baixos salários e a generalização da precariedade laboral. Em simultâneo, os rendimentos mais elevados beneficiaram de reduções fiscais desde o início do século.

As empresas, por exemplo, viram a taxa de tributação baixar de 51,6 por cento, nos tempos do conservador Helmut Kohl, para 29,6% (na prática 22%), na época das coligações entre sociais-democratas e verdes (1998-2005).

O resultado está à vista: se nos anos 80 a Alemanha era um dos países com menor percentagem de salários baixos (14%), hoje, o emprego precário, sempre mal pago, eleva-se a 25 por cento, equiparando-se aos Estados Unidos.

Com estas políticas favoráveis ao capital, as mulheres são as primeiras a sofrer. Dados recentes da estatística federal indicam que, na Alemanha, as mulheres ganham em média 22 por cento menos do que os homens, sendo esta diferença mais acentuada em postos de direcção, onde auferem menos um terço do que os homens, e menos perceptível em empregos administrativos de escalão inferior, onde a diferença é de quatro por cento.

De mão estendida

Os números oficiais dão conta da existência na Alemanha de 13 milhões de pobres, mas esta camada da população está aumentar todos os dias, abrangendo desempregados, idosos, mas também trabalhadores precários, cujos salários não chegam para viver e são forçados a recorrer a instituições assistencialistas.

Uma destas organizações, Deutsche Tafel, revelou que os seus centros já apoiaram mais 200 mil pessoas carenciadas no ano em curso, em relação a 2011.

A mesma organização afirma que há pelo menos 1,5 milhões de pessoas que frequentam refeitórios sociais em território
alemão.

A Deutsche Tafel tem mais de 20 anos de actividade, fornecendo gratuitamente produtos alimentares que são recuperados de restos de supermercados e padarias.

Segundo o seu presidente, Gerd Häuser, «a política antipobreza fracassou na Alemanha». Hoje «ter trabalho já não significa estar protegido contra a pobreza».

 
 
 
Fonte: Avante
 
 

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